The Shawshank Redemption
Género: Drama
Duração: 142 minutos
Ano de lançamento: 1994
Diretor: Frank Darabont
Diversos pensamentos nos invadem quando no deparamos com um filme como o “The Shawshank Redemption”. É a consequência óbvia dos filmes que nos obrigam a encarar sítios que temos tendência a ignorar.
A certeza que mais me dominou após 142 minutos a arregalar os olhos foi a de que Andy, personagem interpretada por Tim Robbins, deveria ter entrado na prisão de Shawshank. Pode parecer uma convicção algo simplista, pois se aquele homem não tivesse sido, injustamente, condenado a duas prisões perpétuas por ter matado a mulher e o seu amante, nunca teríamos tamanha obra de arte cinematográfica.
Na vida os nossos atos representam, invariavelmente, consequências em caminhos alheios. Essas consequências podem ser positivas ou negativas, mas acontecem e é ingénuo considerarmos que as podemos controlar.
Se Andy nunca tivesse sido preso, o Red (Morgan Freeman), nunca teria alcançado a tão aclamada redenção porque não tinha tido esperança para acreditar que a merecia. O mais fascinante acerca das prisões físicas que nos rodeiam é que elas muito pouco representam face às prisões emocionais e mentais em que nos aprisionamos sozinhos, (Fear can hold you prisoner. Hope can set you free).
Se Andy nunca tivesse sido preso, Skeet (Larry Brandenburg), Heywood (William Sadler), Jigger (Neil Giuntoli), Floyd (Brian Libby), e tantos outros, teriam sido meros homens privados de liberdade, todavia ao invés disso, através deles recebemos a mensagem que gritam os laços criados entre pessoas que partilham não a sentença da prisão, mas a sentença que transporta quem é privado de sonhar. Os momentos que partilham todos juntos, como aquele em que bebem uma simples cerveja, aproximam-nos das personagens e geram empatia.
Se Andy nunca tivesse sido preso, Brooks (James Whitmore) nunca teria visto a biblioteca, que lhe fez companhia em tantos anos de carceragem, ser invadida por novos livros cheios de cor, conhecimento e utopias por descobrir. Biblioteca essa que recebe o seu nome em forma de homenagem.
Se Andy nunca tivesse sido preso, muito provavelmente Bogs Diamond (Mark Rolston) nunca teria tido uma verdadeira punição. Não existe redenção para quem não se arrepende, para quem escolhe todos os dias traçar um caminho de sofrimento e medo. Momentos como os sucessivos espancamentos a que Andy é sujeito pela personagem de Bogs demonstram, sem forçar, o pior do ser humano e a crueldade de que este é capaz.
Se Andy nunca tivesse sido preso, o capitão Hadley (Clancy Brown) e o diretor Warden (Bob Gunton) nunca teriam sido desmascarados da hipocrisia que perpetuavam. Uma crítica necessária ao poder, à corrupção e aos abusos da autoridade.
Se Andy nunca tivesse sido preso, talvez Tommy (Gil Bellows) não tivesse morrido de forma precoce e injusta. Haverá sempre consequências negativas, essa é uma certeza. Outra convicção é que este filme não é uma consequência negativa, mas um privilégio para quem o assiste.
É um privilégio ser narrado pela voz acolhedora de Morgan Freeman e através dela nos apaixonarmos por Andy, da mesma forma que se apaixonou Red.
É um privilégio percebermos as nuances do suicídio quando vemos dois casos tão distintos como o de Warden e o de Brooks. Se um deriva de pura cobardia, o outro é um puro sinónimo de humanidade.
É um privilégio perceber a sociedade que se cria atrás das grades, longe da civilização.
O filme baseado no conto “Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank”, escrito por Stephen King e dirigido por Frank Darabont não teve o sucesso merecido nas salas de cinema, mas encontrou glória na privacidade dos ecrãs dos espectadores. Faz sentido, existem verdades que apenas podemos descobrir se mergulharmos no nosso íntimo, se nos libertarmos das amarras dos nossos preconceitos e se nos permitirmos sonhar.
Inês Saldanha