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The Godfather I

 

Género: Crime/Ficção policial

Duração: 175 minutos
Ano de lançamento: 1972

Diretor: Francis Ford Coppola

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O filme “The Godfather” baseado no livro de Mario Puzo e dirigido por Francis Ford Coppola é “an offer you can't refuse”.
Com três horas de duração, esta obra cinematográfica consegue agarrar-nos ao ecrã através do suspense e dos momentos com grande tensão psicológica.
A primeira cena do filme está brilhantemente construída com dois cenários idealizados para revelar a dualidade que nos irá acompanhar no resto do filme. Durante o casamento, podemos observar dois mundos distintos: o copo de água e o escritório de Don Vito Corleone (Marlon Brando). Estas cenas intercaladas quase dão permissão ao espectador para ter quatro olhos e poder deambular pelos segredos e mistérios da família Corleone.
Esta cena inicial permite-nos descobrir as diferentes personagens, as relações que mantém entre si e as suas características.
O casamento é colorido, enérgico, festivo e transmite toda a essência das famílias italianas e os encantos do sangue latino. Por outro lado, a atmosfera no escritório do chefe da família é intrigante, sombria e demorosa. Este contraste torna-se muito poderoso para cativar a curiosidade de quem assiste e a forma como está filmado revela a enorme perspicácia de Coppola.
O filme desenvolve-se à volta da família Corleone e procura retratar a máfia italiana a operar o crime organizado à volta do jogo, do contrabando de álcool e da prostituição, em Nova Iorque, sempre numa perspetiva de dentro para fora.
Esta forma de contar histórias da perspetiva dos “maus”, muito utilizada nos dias de hoje, é muito poderosa. O facto de sermos convidados a pertencer à família Corleone durante todo o filme, leva-nos não apenas a desculpar as atitudes criminosas das várias personagens, mas também a querer de alguma forma fazer parte e ter direito à lealdade que perpetua nos laços familiares.
Marlon Brando interpreta o chefe da família de uma forma genial e, à medida que a personagem se desenvolve, somos tentados a valorizar aquele chefe da máfia sem nos questionarmos da sua postura no mundo do crime. A verdade é que nunca observamos realmente Don Vito Corleone a cometer atos criminosos e puníveis, mas sabemos que ele o faz. A forma como ele defende as suas convicções, o facto de se opor aos negócios de droga e o amor que demonstra pelos filhos cria empatia por esta persona. Quando Sonny Corleone (James Caan) morre, Don Vito Corleone pede ao agente funerário, introduzido no início do filme, que reconstitua o corpo maltratado pelas balas do filho para que a sua esposa (Morgana King) não tenha de encarar o corpo do seu filho daquela forma. No final do filma, antes de morrer Don Corleone já demosntra uma certa fragilidade da velhice, mas continuarmos a ver a sua inteligência nos conselhos que dá a Michael e no facto de desvendar o verdadeiro traidor, Barzini (Richard Conte).
Al Pacino também afirmou o seu brilhantismo ao interpretar Michael Corleone. A evolução desta personagem é incrível e algo conflituosa. Se ao início temos um rapaz que não se quer envolver nos negócios da família, no final do filme temos um padrinho na sua mais imponente essência. Não existe nenhum momento em que sentimos que Michael luta contra os seus princípios e convicções, ou seja, a mudança de postura é bastante ágil e, facilmente, as suas decisões começam a ser inclementes.
A cena do batismo é destrutiva. Enquanto vemos o batismo a acontecer que enaltece, uma vez mais, a afeição que existe das famílias italianas à igreja católica, assistimos à morte dos chefes das cinco famílias. Michael Corleone torna-se no padrinho, nas duas assunções da palavra. A morte do cunhado, Carlo Rizzi (Gianni Russo) fortalece o carácter de Michael sem piadade.
As mulheres, por outro lado, são completamente ignoradas nesta história. A mãe, Mama Corleone, a filha, Connie Corleone Rizzi (Talia Shire), Apollonia (Simonetta Stefanelli) e até mesmo Kay Adams (Diane Keaton) servem apenas como ligadores nesta história que releva um mundo de homens poderosos. Algo explicável pela sociedade da altura.
Por fim, mas não menos relevante, a estética do filme é perfeita. Os rasgos de luz a enfatizar certas personagens que lhe dão poder, os momentos sombrios que intensificam os diálogos das personagens e os planos mais fechados são adequadamente escolhidos. Gordon Willis e Francis Ford Coppola afirmaram que esta estética tenebrosa foi propositada para “para enfatizar a obscuridade dos negócios da família Corleone” e resultou realmente muito bem.
“The Godfather” é um filme que enaltece o pior do ser humano e do crime, mas que nos faz ceder pela lealdade e crueza das personagens. Um filme que nos deixa a ansiar por mais, mas que não nos faz esquecer do que acabamos de ver.

Inês Saldanha

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