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Barbie

 

Género: Comédia/Fantasia

Duração: 114 minutos
Ano de lançamento: 2023

Diretor: Greta Gerwig

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Lembro-me que antes mesmo de estrear, o filme “Barbie” foi foco de várias noticias e destaco uma das que mais me surpreendeu: “Filme "Barbie" usou tanta tinta cor-de-rosa que chegou a esgotar stock mundial”. Nunca pensei ficar genuinamente feliz com o fim provisório de uma tinta, mas mal os meus olhos embarcaram numa viagem pela Barbieland houve algo ingénuo e infantil dentro de mim que voltou a sonhar.

A estética do filme é o que salta primeiro à vista, uma viagem visual que vai desde os tons até aos figurinos, onde destaco o icónico look Hot Skatin' Barbie, inspirado na edição de 1994. Dos acessórios aos mais pequenos detalhes que constroem este mundo de brincar. O escorrega da casa da Barbie, por exemplo, que a obriga a descer do seu quarto e a atravessar o exterior da casa para entrar na cozinha é bastante irreal quando comparado com o mundo humano, contudo bastante fiel à dinâmica de brincar.

A premissa deste filme, assim como outras tantas coisas, não é incrivelmente original ou imprevisível, muito pelo contrário. O filme retrata a história de um brinquedo que ao viver uma crise existencial confronta-se com diversas emoções humanas. O mesmo podemos observar em outros filmes como o “Pinóquio”, “Toy Story” ou ainda num cenário mais adulto, “Ted”.
Estes estereótipos prováveis acompanham-nos ao longo de todo o enredo: Sasha (Ariana Greenblatt) a adolescente revoltada, Gloria (America Ferrera) a mulher que se sente frustrada e incompleta e até mesmo os clichés dos dois mundos. A futilidade e o capricho que caracterizam a Barbieland logo ao início, o machismo tóxico do mundo real e até as características do patriarcado na revolta dos Ken’s.

Contudo, a capacidade de antevermos não torna o filme mau ou aborrecido, pelo contrário torna-o mais pessoal, familiar e íntimo. Diversas mensagens tão evidentes, mas necessárias.
Este filme, tal como as mulheres, pode ser o que ele quiser: um cartaz ao poder feminino, uma carta de desculpas da Mattel (empresa que fabricou a boneca) por ter passado anos a definir a verdadeira beleza, uma forma de esclarecer de uma vez por todas o verdadeiro significado de feminismo, entre tantas outras interpretações dignas de ser concebidas.

Podemos realçar que mesmo ao tentar demonstrar as desigualdades que existem entre os dois géneros, o filme foca-se apenas numa visão ocidental e, de certa forma, privilegiada. As mulheres do filme “Barbie” estão numa luta por mais poder, enquanto, na vida real, existem meninas que nem sequer têm a oportunidade de frequentar a escola. É certo e justo que façamos esta nota, mas impor à arte que aborde todos os ângulos é retirar ao artista a capacidade de ser dono da sua inspiração. A arte pode servir propósitos, mas não tem de o fazer.

Seria injusto da minha parte não destacar as excelentes interpretações de Margot Robbie e Ryan Gosling que tanto me entretiveram durante 114 minutos. Brilhantes, honestos e o equilíbrio perfeito entre comédia e drama.
A banda sonora que arrecadou o prémio dos Billboard Music Awards para Melhor Banda Sonora, o prémio Melhor Banda Sonora Musical da St. Louis Film Critics Association e ainda a música “What Was I Made For?” de Billie Eilish com quatro prémios, sendo um deles um Oscar.

Confesso que a minha música favorita é “I’m Just Ken” escrita por Mark Ronson e Andrew Wyatt, interpretada por Ryan Gosling e que nasceu de uma mera brincadeira de improviso.
O filme reúne diversas referências a outras obras como são exemplo, o momento inicial do nascimento da boneca que é inspirado na cena de “Uma Odisseia no Espaço”, múltiplas alusões à Saga Matrix e, uma das minhas favoritas, o momento em que a criadora da boneca, Ruth Handler (Rhea Perlman) dá uma chávena de chá a Barbie e que remete para a obra “The Creation of Adam” de Michelangelo – o momento que Deus (o artista) dá a vida ao primeiro homem (a arte).

Para mim, este filme é sobre identidade, descoberta. Todas as personagens estão de certa forma a viver uma dualidade, uma inquietação. Para além disso, é a personificação da palavra igualdade: todos temos o mesmo valor, todos somos únicos e todos somos “kenough”.

Inês Saldanha

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